terça-feira, dezembro 23, 2008

Vários - «Fado Capital: A Essência do Fado de A a Z»

O fado tem história. Uma história que nos é c(a)ontada de diferente formas por várias gerações. A Ovação conta a sua.
O fado é, sem dúvida alguma, um dos mais tradicionais cartões de visita do nosso país. Apesar das suas origens permanecerem obscuras, o fado é tipicamente uma canção portuguesa, embora seja indiscutível a sua raiz urbana. Ainda hoje nos bairros históricos de Lisboa; Alfama, Mouraria, Castelo ou Bairro Alto, se continua a calar todas as noites os ruídos das conversas, perante a tão célebre frase: «Silêncio, que se vai cantar o fado».
A Ovação, uma das mais prestigiadas editoras nacionais, detentora de um dos mais valiosos e históricos espólios de fado, tem vindo ao longo dos anos a priveligiar esta vertente musical no seu extenso catálogo. Prestigiando esta sua politica editorial, a Ovação acaba de editar «Fado Capital: A Essência do Fado de A a Z» uma caixa de 10 CD's, complementada por um DVD.
«Fado Capital: A Essência do Fado de A a Z» é uma magnifica exposição do tributo ao Fado e aos seus cultores, divulgando o Fado, de Lisboa e de Coimbra, num percurso que abarca várias gerações e estilos. Ao longo do percurso destes 10 CD's somos convidados a conhecer os diferentes ambientes em que o fado é protagonista. A desgarrada, as guitarradas e o canto.
Nela evocam-se nomes do passado como Amália Rodrigues, Alfredo Marceneiro, João Ferreira Rosa, Beatriz da Conceição, Maria da Fé, Fernando Maurício, Vicente da Câmara ou Celeste Rodrigues. A nova geração, aquela que voltou a dar ao fado a dignidade que se ia perdendo, também está representada por nomes como Paulo Bragança, Encores Fado, Margarida Guerreiro ou Catia Montemor.
E com se trata de uma extensa e criteriosa compilação: de Ada de Castro a Zélia Lopes, «Fado Capital: A Essência do Fado de A a Z» não poderia esquecer os instrumentistas, alguns daqueles que elevaram a guitarra portuguesa a um dos mais carismáticos e belos instrumentos musicais no panorama musical mundial, como por exemplo: António Bessa, António Chaínho, Fontes Rocha, Jaime Santos, Pedro Caldeira Cabral ou Custódio Castelo.
O Fado de Coimbra marca a sua presença nas prestigiadas e imortais vozes de José Afonso, Luiz Goes, Sutil Roque, Fernando Rolim ou o Grupo de Fados de Coimbra.
O DVD, como já aqui referido, é um perfeiro complemento a «esta história de fado». É um filme que não pretende formular teorias nem apontar caminhos luminosos, tratando-se apenas de uma viagem através das ruas de Lisboa e dos meandros do fado. Com depoimentos e participações de grandes nomes ligados ao fado – Camané; João Ferreira Rosa; Ana Sofia Varela; Carlos do Carmo; Helder Moutinho; João Braga, Maestro António Vitorino de Almeida ou Maria Ana Bobone, entre tantos outros – este DVD incluí ainda vários video clips de grandes fadistas como Alfredo Marceneiro, Carlos do Carmo, Lucilia do Carmo, e um excerto de Filme de Amália, sendo narrado por Filipe Férrer.
Mais de que uma antologia de fado, «Fado Capital: A Essência do Fado de A a Z» é a perfeita homenagem aos cantadores e cantadeiras que fizeram do fado aquilo que ele é: A canção portuguesa por excelência.

José Jorge Letria - «Apetece-lhe Pessoa?»

Fernando Pessoa desde muito novo, depois da morte de seu pai e do seu irmão, começou a inventar heterónimos — «personas» imaginárias para povoar um teatro íntimo do eu. O menino de seis anos que trocava cartas com um correspondente fictício, mudou-se para Durban, África do Sul, surgindo um certo Alexander Search, invenção para quem Pessoa criou uma biografia, traçou o horóscopo e em cujo nome calmamente translúcido escreveu poesia e prosa em língua inglesa. Seguir-se-iam outras 72 personagens em busca de um autor.
Em 1905, regressou a Lisboa. De imediato abandonou a universidade e tornou-se autodidacta. Serviu como correspondente de comércio estrangeiro, traduzindo e compondo cartas em inglês e francês. De vez e quando, traduzia poemas estrangeiras. Essa existência marginal e autónoma vincula Pessoa a outros mestres da modernidade urbana, como James Joyce, Ítalo Svevo e, de certo modo, Franz Kafka.
Até 1909, a poesia imputada a Alexander Search permanece em inglês, à expceção de seis sonetos portugueses. O ano de 1912 marcou uma reviravolta. Pessoa envolveu-se nos incontáveis círculos, conventículos e publicações efémeras de cunho lítero-estético-político-moral que surgiram da crescente crise social portuguesa. Surge assim Alberto Caeiro. Mas Caeiro não saltara à existência sozinho. Viera acompanhado de dois discípulos principais. Um era Ricardo Reis, o outro Álvaro de Campos. Cada uma tem sua própria biografia e físico detalhados. Caeiro é loiro, pálido e de olhos azuis; Reis é de um vago moreno mate; e Campos, entre branco e moreno, tipo vagamente de judeu português, cabelo, porém, liso e normalmente apartado ao lado, monóculo, como nos diz Pessoa.
O inter-relacionamento dos três, seja na atitude ou no estilo literário, é de uma densidade e subtileza jamesianas, a exemplo de seus vários laços de parentesco com o próprio Pessoa. O Caeiro em Pessoa faz poesia por pura e inesperada inspiração. A obra de Ricardo Reis é fruto de uma deliberação abstracta, quase analítica. As afinidades com Campos são as mais nebulosas e intricadas.
É todo este labirinto de poetas-personagens que José Jorge Letria, nos devolve nesta homenagem intitulada «Apetece-lhe Pessoa», editado pela Ovação. Nele José Jorge Letria, escritor e jornalista, um dos mais destacados cantautores de antes e depois do 25 de Abril, com mais de uma centena de títulos publicados, oferece-nos uma das mais belas homenagens à palavra de Pessoa, num ano que se comemoram 120 anos do seu nascimento. Neste registo podem-se escutar 16 poemas de Fernando Pessoa, 7 de Alberto Caeiro, 5 de Ricardo Reis, 9 de Álvaro de Campos e dois fragmentos extraídos de «O Livro do Desassossego» de Bernardo Soares.
Um disco de eleição, de um poeta de excepção, declamado por um dos mais prestigiados nomes da cultura nacional, José Jorge Letria.